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Livro emprestado de amigo, filme de mainha. Foto Arquivo pessoal |
Assisti ao filme alguns anos
atrás e ele mexeu muito comigo. Depois disso assisti mais algumas vezes e só
agora que li o livro. Por incrível que pareça esta foi a primeira vez em que li
um livro com a história igual ao filme. Apenas algumas passagens de pensamentos
do personagem que não há no filme, mas que vemos nos olhos do ator e uma ou
outra descrição de personagens que não batem com os do filme. Todavia não muda
a história.
Jake é um rapaz com uma vida
perfeita, pelo menos é o que ele pensa até estar no funeral de seu melhor amigo
de infância, Roger. Ele então começa a relembrar toda sua historia com o ex-amigo
e o seu pensamento começa a mudar, a partir daí ele tem uma crise existencial
com todas as dúvidas e perguntas típicas dos seres humanos quando saem da bolha
em que vivem. Isso acaba sendo um divisor em sua vida e a nova vida que ele
começa é marcada por pessoas que ele jamais pudera imaginar que fariam parte
nessa nova etapa de sua história.
Eu e Jake temos algo em comum,
Roger. A diferença é que ele e Roger foram amigos na infância até parte da
adolescência. Eu e ela não. Eu a
conheci na infância também, mas não fizemos amizade. Eu era uma garota chata e
preconceituosa. Ela não era como as
outras garotas, mesmo que não tivesse um defeito físico como Roger, sua
diferença estava na sua criação e os rótulos que a nossa sociedade impunha na
época. Enfim, eu não queria ser amiga dela e ela estudava em minha sala. Aí um dia ela resolveu frequentar a nossa igreja e fazer parte do nosso
conjunto infantil. Eu tinha uns 8 anos e queria ser a única cantora do lugar e
aí ela cantava, e o pior, para uma
garota metida igual a mim, ela
resolveu cantar numa aula que a professora deu liberdade para os alunos se
apresentarem, e ela cantou um hino de
nosso conjunto! Eu fui tomar as providências, é claro. Fiz o meu discurso e saí
de nariz empinado. Essa foi a memória que me veio no dia em que soube de sua
morte. Assim como Jake, todas as lembranças me vieram com força e as lágrimas
foram invitáveis. Lembrei das poucas conversas que tivemos ao longo de sua
curta existência, lembrei de quando entramos na adolescência e das histórias contadas
pelo povo, ela não fazia mais parte da igreja e agora era mal falada.
Lembrei-me de quando soube que ela fora embora, e com meu orgulho idiota, achei
melhor que isso tivesse lhe acontecido. Lembrei-me do dia em que ela voltara
agora como cristã. Foi um impacto. Ela chegou a nossa igreja e estava muito mudada.
Eu ainda não conseguia fazer amizade com ela, mesmo que eu já tivesse bastante diferente
e sem preconceitos. Mas parecia que nós nunca conseguiríamos nos entender.
Tentei por um tempo, conversávamos e eu a ouvi contando sobre suas experiências
com Deus, lá fora. A sua história de conversão era linda! Foi um susto quando
ela se afastou da igreja e começou um relacionamento que culminou em um
casamento logo em seguida. Eu sabia que eu devia ir visitá-la, mas relutei.
Deus me tocara no coração por diversas vezes para falar-lhe, só que eu acabei
protelando até aquele dia inevitável, não havia mais volta. Ela atirou em si
mesma e acabou com toda a chance de sua vida. Chorei e chorei por muitos e
muitos dias. Cada vez que eu me lembrava dela e de tudo que ficara sabendo
sobre sua vida. Ela fora incompreendida, sofrera muito e ninguém se importara
com sua dor... Enquanto assistia ao filme eu só conseguia me lembrar dela e
chorar.
A decisão de Jake após a morte
de Roger foi de salvar vidas. Eu resolvi que faria o mesmo. Não sei se consegui
fazer a diferença na vida de alguém, mas resolvi não deixar pra amanhã a
conversa que posso ter hoje.
Enquanto escrevo posso
recordar-me dos olhos dela brilhando ao falar sobre o cd que mais tocara sua
vida: Nos Braços do Pai - Diante do Trono. Nunca mais consegui ouvir qualquer
melodia deste cd sem pensar nela e sem querer voltar no tempo e consertar isso.
Talvez se tivesse ido a casa dela, ela estaria aqui hoje. Ela ainda cantaria
com sua bela voz. Mas não há voltas.
Para salvar uma vida é uma
bela história sobre amor e perdão. É para todas as pessoas. Talvez alguns
assistam ou leiam e ache que é bobagem, mas não é. Somente quem conviveu de
perto com uma história como essa, sabe o quanto a dor é real e o quanto algumas
pessoas são frágeis e precisam de nós. Tudo que algumas pessoas precisam é de
alguém que os ouça e os ame. Como Roger queria ser ouvido e não encontrou
ninguém para uma boa conversa, como ela queria
ser amada e não encontrou o amor em nenhum lugar onde esteve.
Recomendo o livro e o filme.
Ambos são maravilhosos.