segunda-feira, 15 de maio de 2017

Para salvar uma vida

Livro emprestado de amigo, filme de mainha. Foto Arquivo pessoal

Assisti ao filme alguns anos atrás e ele mexeu muito comigo. Depois disso assisti mais algumas vezes e só agora que li o livro. Por incrível que pareça esta foi a primeira vez em que li um livro com a história igual ao filme. Apenas algumas passagens de pensamentos do personagem que não há no filme, mas que vemos nos olhos do ator e uma ou outra descrição de personagens que não batem com os do filme. Todavia não muda a história.
Jake é um rapaz com uma vida perfeita, pelo menos é o que ele pensa até estar no funeral de seu melhor amigo de infância, Roger. Ele então começa a relembrar toda sua historia com o ex-amigo e o seu pensamento começa a mudar, a partir daí ele tem uma crise existencial com todas as dúvidas e perguntas típicas dos seres humanos quando saem da bolha em que vivem. Isso acaba sendo um divisor em sua vida e a nova vida que ele começa é marcada por pessoas que ele jamais pudera imaginar que fariam parte nessa nova etapa de sua história.
Eu e Jake temos algo em comum, Roger. A diferença é que ele e Roger foram amigos na infância até parte da adolescência. Eu e ela não. Eu a conheci na infância também, mas não fizemos amizade. Eu era uma garota chata e preconceituosa. Ela não era como as outras garotas, mesmo que não tivesse um defeito físico como Roger, sua diferença estava na sua criação e os rótulos que a nossa sociedade impunha na época. Enfim, eu não queria ser amiga dela e ela estudava em minha sala. Aí um dia ela resolveu frequentar a nossa igreja e fazer parte do nosso conjunto infantil. Eu tinha uns 8 anos e queria ser a única cantora do lugar e aí ela cantava, e o pior, para uma garota metida igual a mim, ela resolveu cantar numa aula que a professora deu liberdade para os alunos se apresentarem, e ela cantou um hino de nosso conjunto! Eu fui tomar as providências, é claro. Fiz o meu discurso e saí de nariz empinado. Essa foi a memória que me veio no dia em que soube de sua morte. Assim como Jake, todas as lembranças me vieram com força e as lágrimas foram invitáveis. Lembrei das poucas conversas que tivemos ao longo de sua curta existência, lembrei de quando entramos na adolescência e das histórias contadas pelo povo, ela não fazia mais parte da igreja e agora era mal falada. Lembrei-me de quando soube que ela fora embora, e com meu orgulho idiota, achei melhor que isso tivesse lhe acontecido. Lembrei-me do dia em que ela voltara agora como cristã. Foi um impacto. Ela chegou a nossa igreja e estava muito mudada. Eu ainda não conseguia fazer amizade com ela, mesmo que eu já tivesse bastante diferente e sem preconceitos. Mas parecia que nós nunca conseguiríamos nos entender. Tentei por um tempo, conversávamos e eu a ouvi contando sobre suas experiências com Deus, lá fora. A sua história de conversão era linda! Foi um susto quando ela se afastou da igreja e começou um relacionamento que culminou em um casamento logo em seguida. Eu sabia que eu devia ir visitá-la, mas relutei. Deus me tocara no coração por diversas vezes para falar-lhe, só que eu acabei protelando até aquele dia inevitável, não havia mais volta. Ela atirou em si mesma e acabou com toda a chance de sua vida. Chorei e chorei por muitos e muitos dias. Cada vez que eu me lembrava dela e de tudo que ficara sabendo sobre sua vida. Ela fora incompreendida, sofrera muito e ninguém se importara com sua dor... Enquanto assistia ao filme eu só conseguia me lembrar dela e chorar.
A decisão de Jake após a morte de Roger foi de salvar vidas. Eu resolvi que faria o mesmo. Não sei se consegui fazer a diferença na vida de alguém, mas resolvi não deixar pra amanhã a conversa que posso ter hoje.
Enquanto escrevo posso recordar-me dos olhos dela brilhando ao falar sobre o cd que mais tocara sua vida: Nos Braços do Pai - Diante do Trono. Nunca mais consegui ouvir qualquer melodia deste cd sem pensar nela e sem querer voltar no tempo e consertar isso. Talvez se tivesse ido a casa dela, ela estaria aqui hoje. Ela ainda cantaria com sua bela voz. Mas não há voltas.
Para salvar uma vida é uma bela história sobre amor e perdão. É para todas as pessoas. Talvez alguns assistam ou leiam e ache que é bobagem, mas não é. Somente quem conviveu de perto com uma história como essa, sabe o quanto a dor é real e o quanto algumas pessoas são frágeis e precisam de nós. Tudo que algumas pessoas precisam é de alguém que os ouça e os ame. Como Roger queria ser ouvido e não encontrou ninguém para uma boa conversa, como ela queria ser amada e não encontrou o amor em nenhum lugar onde esteve.
Recomendo o livro e o filme. Ambos são maravilhosos.